Quando estamos longe dos grandes centros urbanos brasileiros, como Rio de Janeiro e São Paulo, muitas vezes imaginamos que esses lugares são inalcançáveis — principalmente quando viemos de famílias de baixa renda. Assim, para quem gosta de moda, se imaginar em um São Paulo Fashion Week (SPFW) é quase que um sonho “impossível”, isso porque é um dos maiores eventos da moda mundial e, de certa forma, nos faz sentir pequenos e distantes deste universo.
Ano passado, fui adicionada a um grupo nas mídias sociais formado por pessoas que também gostam de moda, sendo a maioria mulheres negras de bairros periféricos de São Paulo. Neste grupo, há também outras pessoas de lugares distintos do Brasil, mas tendo a maioria das capitais brasileiras e eu, sendo a única do interior do Estado do Ceará.
No período da SPFW, ano passado, o grupo ficou bem movimentado. Quem morava na cidade onde o evento acontecia se organizava para se encontrar, comentava que o trem estava lotado, qual roupa estava vestido e depois só encaminharam todas as mais belas fotos do evento.
Enquanto isso, eu só visualizava. O evento estava muito distante de mim, ainda continua distante, mas hoje tenho uma certa esperança de que, talvez, um dia possa estar lá, quem sabe, um dia, eu que esteja em uma daquelas fileiras, escrevendo e analisando a edição do ano. Mostrar como as pessoas foram representadas e como a moda local foi colocada na passarela. Momentos esse, que só era possível quando estava brincando de boneca na minha infância.
O SPFW começou novamente. E para quem está longe, a vontade de estar lá presente se mantém acesa mais uma vez. Quem não faz parte desse universo talvez não compreenda esse desejo ou toda essa idealização de estar presente em um evento como esse. Dado que, o SPFW para os amantes da moda é como a final de um grande campeonato de futebol para os torcedores. No entanto, sua relevância transcende o esporte, pois se trata da maior semana de moda da América Latina e a quinta maior do mundo.
A programação da semana reúne nomes icônicos da moda brasileira e marcas que consolidam o SPFW como uma plataforma de experimentação e expressão artística e é o que faz o evento ser tão grande assim. Sendo, uma notória plataforma cultural, criativa e de identidade brasileira, sempre mostrando para o mundo o que temos de mais autêntico, espetacular e glamouroso mesmo em um cenário de moda que ainda é pautada na moda internacional.
O SPFW mesmo estando em um centro comercial brasileiro, quando se é visto de fora ainda é vista como uma cidade à margem da sociedade, dado que o Brasil é considerado ainda um país de terceiro mundo. Assim, como o SPFW muitas produções que criamos ainda não são valorizadas como se deve pelo mundo, mas mesmo assim, estamos lá, com influências de fora e a fuga desse cenário.
A moda vive hoje um período de transnacionalização, o que gera conexões criativas entre países e culturas, realizando uma troca para unir, criar e desenvolver a moda, como se fosse uma colcha de retalhos com os melhores cortes, cores, estampas e tecidos. Assim, segundo os organizadores do evento, “mais que evento é mais que moda, o São Paulo Fashion Week é uma experiência relevante, estimulante, inspiradora e transformadora para todos os que se conectam à plataforma”. Dessa forma, quem gosta ou trabalha na área da moda, sonha em estar presente nesse evento.
Neste ano, o SPFW tem como tema de seus 30 anos, “futuros possíveis – moda como expressão e inovação”, e teve início em 6 de abril e segue até amanhã. O grupo que citei anteriormente, desde o início já está recebendo convites para a semana, eu e provavelmente você não estaremos lá. Mas seguindo o tema deste ano “futuros possíveis”, participar de um evento deste nível, sem dúvidas também é um futuro possível. E, quem sabe no próximo eu ou nós, estaremos por lá também!