Foto: Luiz na Nuvem
Comunidade indígena, Aldeia Poço Dantas-Umari, em Crato, reafirma a identidade Kariri por meio da agricultura familiar, da espiritualidade e da preservação da memória coletiva, e receberá nesta quarta-feira, 15 de outubro, às 19h, a apresentação do espetáculo “Margarida, pra você lembrar de mim”
A força da memória e da resistência feminina será destaque na Aldeia Poço Dantas-Umari, em Crato, nesta quarta-feira, 15 de outubro, às 19h, com a apresentação do espetáculo “Margarida, pra você lembrar de mim”. A encenação propõe um encontro poético entre passado e presente em sua narrativa sobre a história de Margarida. Dentre os diversos assuntos e núcleos do espetáculo, temos um trecho dedicado à relação das lutas de Margarida Maria Alves e Marielle Franco, duas mulheres assassinadas por enfrentarem estruturas de poder e injustiça social no Brasil, e que continuam a inspirar novas gerações.
As duas figuras são vozes insurgentes que desafiaram estruturas de poder e violência: Margarida, líder sindical e defensora dos direitos trabalhistas no campo, assassinada em 1983; Marielle, vereadora negra, feminista e ativista dos direitos humanos, executada em 2018. Luz Bárbara, performer, diretora e atriz do monólogo do espetáculo, percebe nelas um mesmo gesto de coragem e enfrentamento, que atravessa o tempo e as faz ecoar uma na outra.
Ao rememorar sua presença no protesto da Avenida Paulista após o assassinato de Marielle, Bárbara associa aquele momento à comoção nacional que se seguiu à morte de Margarida, destacando como a história se repete no ciclo de violência política contra mulheres que se tornam símbolos de transformação. Essa lembrança reforça o caráter de denúncia e memória viva que o espetáculo carrega.
A performer destaca ainda um elo afetivo e geográfico: a mãe de Marielle, Marinette da Silva, é conterrânea de Margarida, ambas ligadas a Alagoa Grande, na Paraíba. Essa coincidência dá corpo e raiz ao vínculo entre as duas figuras, mostrando que a herança de luta e resistência de Margarida também se perpetua nas origens de Marielle.
Aldeia Poço Dantas
“Vivemos anos ancestrais nesse território, resistindo e mantendo viva nossa cultura alimentar, a qual tem como base a mandioca, o milho, o amendoim, entre outras; o uso do barro, o artesanato, como o traçado de cipó e as biojoias; as danças do coco, as benditeiras Cariri. No território Cariri, nossa espiritualidade é a força da resistência, a qual nos mantém vivas para lutar. Nesse sentido, entendemos que a arte é um instrumento que fortalece nossa força, ecoando nossa voz”, afirma Vanda Kariri, moradora da Aldeia Poço Dantas Umari.
Na região do Cariri cearense, berço de rica herança cultural, o povo Kariri mantém viva sua história na Aldeia Poço Dantas-Umari, zona rural do município de Crato. Descendentes dos antigos habitantes da Chapada do Araripe, os moradores reafirmam suas origens por meio de rituais, saberes tradicionais e da luta por reconhecimento enquanto comunidade indígena.
Localizada a cerca de 25 quilômetros da sede do Crato, a Aldeia Poço Dantas reúne famílias que se identificam como povo Kariri, um dos grupos indígenas mais antigos do Nordeste. Por muito tempo, esses descendentes viveram à margem da visibilidade social, integrados à vida rural e sem o devido reconhecimento étnico.
Nas últimas décadas, contudo, movimentos de autoidentificação e pesquisas conduzidas por professores e alunos da Universidade Regional do Cariri (URCA) contribuíram para resgatar a memória e fortalecer a identidade Kariri. O processo também deu origem a novas ações culturais e comunitárias que hoje movimentam o território.
A base econômica da aldeia é a agricultura familiar de subsistência, com o cultivo de milho, feijão e mandioca. A vida simples é marcada por práticas espirituais que unem fé, resistência e ancestralidade. O Toré, ritual sagrado dos povos indígenas do Nordeste, segue sendo símbolo de união e de ligação com os antepassados. Elementos da religiosidade católica popular também se misturam às celebrações, revelando um sincretismo que atravessa gerações.
Mesmo sem território oficialmente demarcado, a comunidade de Poço Dantas tem se mobilizado por meio da educação, do artesanato e da valorização da cultura local. Eventos como o Crato Indígena – Existência e Resistência ajudam a dar visibilidade às pautas dos povos originários e reforçam o papel da aldeia como espaço de memória e de afirmação identitária no Cariri.
Mais do que um território, Poço Dantas representa a reconstrução da identidade Kariri no Ceará — uma história de resistência que mantém viva a presença indígena no sertão e ressoa como um chamado à preservação das raízes culturais do povo cearense.
Cronograma de apresentações – Espetáculo “Margarida pra você lembrar de mim”
15 de outubro (quarta-feira)
Local: Território Indígena do Poço Dantas, Umari, Distrito de Monte Alverne, Zona Rural de Crato-CE
Horário: 18h30
16 de outubro (quinta-feira)
Local: Procem – Projeto Cultural Edite Mariano
Endereço: Rua Lavras da Mangabeira, 1140, Cacimbas, Crato
Horário: 19h
17 de outubro (sexta-feira)
Local: Sítio Leite, Casa de Iolanda, Estrada Popôs Serraria, Juazeiro do Norte-CE
Horário: 19h
SERTÃO DE CRATEÚS
18 de outubro (sábado)
Local: Memorial dos Povos Indígenas Vicente Kariri (Aldeia Maratoan)
Endereço: Rua Monteiro Lobato, 130 – Ipase, Crateús-CE
Horário: 19h
19 de outubro (domingo)
MANHÃ:
Local: Praça Sales Campos, nº 11, Centro – Tamboril-CE
Horário: 9h
TARDE:
19 de outubro (domingo)
Local: Aldeia Viração – Tamboril-CE
Horário: 18h
Apoio institucional
Este projeto tem o apoio da bolsa artística “Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz”.
Referências e redes
Site: www.pravocelembrardemim.com.br
Instagram: @margaridapravoce
YouTube: @margaridapravocelembrardemim
Publicação: Margarida, Pra você Lembrar de Mim – N-1 Edições, 2023, na Caixa de Dramaturgias Indígenas.
Contato
Assessoria de Imprensa: Dalila da Silva – (88) 9 8859-4572
Dalila da Silva
Jornalista graduada pela UFCA/CE, Produtora Audiovisual, Redatora e Revisora Textual.
