Periferia morta, povo vivo Alexandre Lucas*

Por: Alexandre Lucas
Integrante do Coletivo Camaradas

A periferia não é para ser espaço de orgulho. Ela surge como consequência desastrosa e perversa do modelo capitalista. É fruto das relações de exploração e opressão. A distribuição desigual da economia estratifica socioespacialmente. De um lado, os excluídos e, do outro, os incluídos; de um lado, os que podem comprar os direitos e, do outro, os que têm os direitos negados.

Romper com a romantização da periferia é uma necessidade humanitária. A estética periférica ou os estereótipos da periferia não devem ser percebidos como instância limitante; pelo contrário, devem servir como ponto de partida para abarcar novos horizontes e reafirmar que outra sociabilidade é possível, baseada no direito coletivo do espaço urbano, com redução dos impactos ambientais, socialização da economia e da produção simbólica.

Reconhecer a produção simbólica das chamadas periferias não pode ser um condicionante estético. Afinal, é importante perceber como os estrangeirismos e as indústrias culturais de massa chegam a esses espaços, se acomodam e se reinventam. Por outro lado, o clássico, o contemporâneo e a tradição coexistem de formas variantes nesses lugares. As religiões nesses espaços são mescladas também pela diversidade. Essas questões nos apontam que existem ligações complexas e diversas entre suas populações e o mundo, descartando a possibilidade de modelos e estruturas estáticas do que é chamado de periferia.

A luta pelo reconhecimento da produção cultural desenvolvida nesses espaços deve ser parte de um processo mais amplo, que diz respeito a fazer o recorte de classe social como entendimento dos fatores que geram segregação socioespacial. Por que pessoas moram na periferia? Isso é uma escolha? Reconhecer a produção cultural desenvolvida nesses espaços altera as relações de desigualdade socioespacial? É sobre identidades que modificamos a estrutura econômica da sociedade? Vários são os questionamentos e as discordâncias.

A luta pelo direito à cidade é estratégica para as populações que têm a cidade negada. Integralizar direitos é criar condições de acessar a cidade na sua multiplicidade, e isso passa por conhecer as pluralidades, diversidades, peculiaridades, necessidades, complexidades e potencialidades de cada local desprovido de planejamento urbano e de inclusão social.

Matar a periferia, enquanto espaço desprovido de planejamento urbano e inclusão social, é urgente. Esses espaços precisam ser extensão de livre circulação da cidade. A segregação precisa ser abolida.

Romantizar as periferias pode servir para alimentar a segregação e a estigmatização das populações. Pode aprofundar a continuidade da matança do povo pobre e, na sua maioria, negra. A destruição das relações de opressão e exploração passa necessariamente pela luta pelo direito à cidade, pela luta da classe trabalhadora pela tomada do poder. Esse é o horizonte para extinguir as periferias e constituir espaços de socialização da economia e da produção simbólica, de planejamento urbano, trânsito humano, redução dos impactos ambientais e uso coletivo da cidade.

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