Segundo os gregos, lá no início, Céu e Terra se entrelaçaram — Urano e Gaia dançando o primeiro desejo. Dessa paixão sem margem, nasceram forças brutais: os Titãs, brutos sonhos do universo em crescimento. Mas o caos é uma criança que precisa de limites.
E foi então que veio Cronos — tempo em carne, lâmina e medida. Não era só um ponteiro: era o esculpidor do fim. Num golpe, silenciou Urano, cortou o ciclo eterno da criação, e o tempo, com suas mãos frias, passou a moldar a vida.
Cada batida de coração virou contagem, cada instante — uma perda e um traço.
Cronos virou Saturno: pai severo, arquiteto do fim, marcando nossos dias com a régua da impermanência.
Na astrologia, Saturno é visto como o prestador de contas, ele está sempre à espreita, mas, em momentos específicos da vida, mostra sua forte presença — e, se não houver o mínimo de conhecimento sobre esse planeta e seus trânsitos, provavelmente você vai se sentir apenas uma vítima da vida — e quem não é?
Não é à toa que existe a crise dos 30 anos, na verdade, isso está mais ligado aos temas do esoterismo e da psicologia coletiva do que as pessoas imaginam. Saturno bate à nossa porta quando estamos próximos de fazer 30, 60 ou 90 anos, são períodos da vida em que sentimos o maior peso do que são as responsabilidades — ou apenas do tempo.
Nas diversas mitologias existentes, Saturno é aquele que vai cobrar, que vai intervir, que vai exigir — e até castrar, se necessário. Na mitologia hindu, ele é conhecido como Shani, um deus que pode moldar o destino e o karma.
Às vezes penso: será possível chegar aos 90 anos e ainda ter o que aprender? A resposta pode parecer óbvia: sim, sempre temos algo a aprender. Mas será que existe algum tipo de ensinamento específico que chega às nossas vidas justamente nessas idades, que mantêm um intervalo de 30 anos?
Acredito que está longe de eu chegar às duas outras fases do Retorno de Saturno, mas o primeiro, para mim, é logo ali.
Várias pessoas do meu ciclo social também estão passando por ele,
e minha perspectiva está sendo moldada a partir disso.
Em março de 2025, Saturno entrou em um trânsito que irá durar até abril de 2027. O planeta estará no signo de Peixes. Com este trânsito em foco, algo bastante ignorado por nós mesmos estará em alta: nossas emoções.
Peixes é um dos signos de água — o que significa que ele transborda aquilo que não é visto, que não pode ser tocado. Peixes tem o dom de transformar tudo o que toca em arte. É comum que pessoas piscianas sejam músicos, artistas plásticos, escultores…
Se um artista não tem o Sol em Peixes, com certeza tem um aspecto forte deste signo em seu mapa astral.
Com o planeta do karma atuando nesse signo, significa, principalmente, que aquilo que tanto escondemos não poderá mais ser ignorado. Ao juntar disciplina e emoções, este trânsito nos convida a desacelerar — não por luxo, e sim por necessidade. Nos mostra que a empatia não é apenas virtude, mas uma necessidade. E, principalmente, nos diz que as respostas que queremos estão justamente naquilo que não demos a devida atenção.
Saturno em Peixes inicia trazendo um cansaço mental imenso para a sociedade. Talvez este cansaço que você tem sentido não seja apenas diário. É o resultado de uma sociedade que não está com tempo para ser apenas humana.
Biologicamente, nós não fomos feitos para saber de todas as notícias do mundo.
Mas acordamos e já damos de cara com o que acontece do outro lado do planeta,
enquanto mal conversamos com quem está ao nosso lado, para saber como aquela pessoa está.
Antes de Saturno nos beneficiar com o aprendizado de saber encarar o mundo com os olhos das águas piscianas, de encarar a realidade com a sutileza que ela tem, ele vai fazer com que nossas emoções se mostrem no físico. Então, se você não parar por conta própria, vai parar por necessidade. Mas uma coisa é certa: você vai parar.
O trânsito de Saturno em Peixes também destaca a importância de encontrar um propósito maior, de conectar-se com algo além do eu individual. Pode ser um período de descobertas espirituais significativas, onde nossa percepção da realidade — e do nosso lugar no universo — pode se expandir enormemente.
Os trânsitos sempre afetam todas as pessoas. O ideal é identificar em qual casa esse signo se encontra no seu mapa astral, para entender qual área da sua vida será afetada. No entanto, especificamente pessoas que estão passando por esse retorno, como explicado anteriormente, podem sentir as consequências com mais força.
Da mesma maneira que não fomos feitos para saber todas as informações do mundo,
acredito que os trânsitos astrológicos também não precisam ser disseminados com tanta agressividade como tem acontecido nesta era tecnológica. Portanto, deixo claro que os astros sempre existiram. Aspectos planetários e astrológicos sempre existiram, independente das informações ou não, as coisas acontecem.
Não deveria ser necessário que as informações de um aspecto planetário fossem disseminadas para que a humanidade tivesse ciência de que cuidar das emoções é algo tão importante quanto beber água. Que ajudar o próximo é básico para ser humano — e não por crenças astrológicas ou religiosas.
Olhar para si e para o outro com amor e atenção não é a obrigação que Saturno está nos impondo — é a oportunidade de voltarmos a um instinto mais primitivo, o de comunidade. Na era da individualização extrema, tornou-se comum que nosso foco esteja na tela do celular e na liberação de dopamina extrema. E assim, nos desacostumamos ao básico da vida: paciência e tempo.
Em qualquer mitologia, Saturno vai ser um personagem que causa medo, porque não estamos acostumados a ver consequências sutis dentro de decisões sutis do dia a dia.
E agora, aquilo que era ignorado nessa mesma sutileza, ficará maior que nós mesmos — e só nos restará saber largar mão, desapegar, entender que não temos controle sobre quase nada, principalmente sobre o que tanto achávamos que tínhamos.
Particularmente, eu já tenho noção de onde Saturno vai atuar com força quando meu primeiro retorno chegar. Mas, desde já, tenho sentido as coisas se remexerem —
e, por conhecimento, não deixarei para cuidar só na hora do que pode ser cuidado hoje. Até porque, se trata de mim mesma — não dos planetas.
Saturno assusta apenas quando não se sabe ver o valor de cuidar, com disciplina, daquilo que é tão importante: nós mesmos. A vida está sempre retribuindo —
e muitas vezes é preciso muita presença para enxergar a sutileza dessa retribuição.
Acredito que, depois do Retorno de Saturno, a gente é bem recompensado pela vida, mas só enxerga se tiver maturidade, vontade e se continuar respeitando o tempo das coisas. Não à toa o tempo é o maior mistério dos cosmos, da ciência e do que não pode ser explicado, porque tudo tem seu momento. E é necessário confiança, para a vida ir fazendo mais sentido — aquilo que faz sentido para você.
É preciso seguir cultivando, plantando e cuidando para ver as coisas crescerem. A colheita sempre vem, é a lei da natureza. A gente só não pode exigir que venha como idealizamos, porque irá vir como tem que vir.
