Mercúrio retrógrado e os desejos inconscientes

Me perguntaram esses dias quais signos serão afetados pelo último Mercúrio retrógrado de 2025. Paralisei, porque geralmente tenho essas respostas na ponta da língua, mas dessa vez me vi tão perdida quanto as pessoas que não são tão próximas dos trânsitos astrológicos. E aí percebi que eu já estava sendo afetada também pela sombra desse trânsito.

O próximo Mercúrio retrógrado acontecerá de 9 a 29 de novembro — vinte dias de revisão, prováveis agonias, esquecimentos, atrasos, falhas de comunicação ou energia elétrica. Esses imprevistos, em geral, são comuns nessa época. Por mais que a massa popular tenha transformado esse planeta em um vilão, Mercúrio, assim como todos os outros, sempre tem algo a ensinar. E em trânsito de retrogradação, ele apenas reforça esses ensinamentos.

Sabe quando você enterra um sentimento, uma emoção ou um pensamento sem dar o devido tempo para elaborar e processar, e em algum dia aleatório isso tudo volta, te atropela e te faz sentir o vilão de si mesmo?

Ou quando Raimundo Fagner cantou Revelação e arrepiou com esta estrofe:

“Quando a gente tenta
de toda maneira dele se guardar…
Sentimento ilhado, morto e
amordaçado, volta a incomodar […]”

Astrologicamente, esse é um período em que isso acontece. Sentimentos ilhados voltam a incomodar. Porque enterrar o que se sente, sem elaborar como aquilo surgiu ou sem encontrar uma forma de seguir saudável, não faz o sentimento sumir; ele apenas acumula e, cedo ou tarde, inunda.

Ser inundada por sentimentos que a razão considera “velhos” é se sentir vilã da própria história. A velha performance da sociedade do espetáculo cai por terra, porque somos tomados pela epifania de que a vida não é linear, não tem roteiro pronto e o cronômetro que você colocou para fazer aquilo que só você sabe sumir se mostra inútil.

O inconsciente é perturbador, é bagunçado, não vive apenas no presente. O mesmo quarto em que se vive o agora é o que o inconsciente pinta olhando para o passado. E desde quando olhar para o passado se tornou algo tão ruim? Desde quando lembrar e querer reviver momentos se tornou um pecado tão grande?

A sociedade atual está extremamente cansada, porque são muitas vozes dizendo o que devemos ou não fazer, o que devemos ou não responder, o que devemos ou não vestir, comer, trabalhar, sentir… ser.

O foco do texto é relacionamentos, porque Mercúrio retrógrado também ficou conhecido por ser um período em que pessoas do passado podem reaparecer. Mas, em geral, é um trânsito que afeta todas as áreas da vida.

Contudo, trago o texto para a perspectiva das relações porque o Sol está em Escorpião, signo de água que sente tudo com profundidade e tem uma intuição invejável. Trago essa perspectiva porque o texto é meu, e eu particularmente me moldo a partir das minhas relações e conexões.

Dessa forma, faço parte dessa sociedade cansada de tantos ditos, normas e discursos. Este não é um texto astrológico de aviso sobre como se comportar ou o que fazer nesse período. Já existem vários textos assim publicados diariamente. Mas isso não o torna menos astrológico, só porque não tem regras nem sensacionalismo sobre esses vinte dias. Pelo contrário, os astros existem muito antes de o ser humano ter o mínimo de entendimento sobre tudo isso.

Eu mesma, mesmo gostando dos trânsitos astrológicos, vou continuar olhando para o passado, sentindo-o, enxergando-o no presente, sem fazer disso um karma. Apenas sendo humana, que gosta de olhar as estrelas, que, inclusive, quando as vemos no céu, já pertencem ao passado. E se você não gosta de astrologia, pelo menos a ciência exata está aí para provar isso.

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Maria Moreira

Jornalista Graduada pela UFCA/CE, Assessora de imprensa da Prefeitura de Juazeiro do Norte, redatora.

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