Foto: Natália Tupi
Comunidade de ancestralidade indígena e negra recebe estreia do espetáculo que narra memória e território
Estreia no Baixio do Muquém
O espetáculo “Margarida, Pra Você Lembrar de Mim” estreia no dia 10 de outubro (sexta-feira), na comunidade do Baixio do Muquém, em Crato (CE), às 19h, no Espaço Cultural Casa de Farinha Mestre José Gomes, ponto de cultura da comunidade. O evento é gratuito e aberto ao público.
O Baixio do Muquém é uma das comunidades que compõem o distrito do Baixio das Palmeiras, junto a outras localidades como Chapada do Baixio, Currais e Oitis. O território é reconhecido por sua ancestralidade indígena e negra e por manter tradições culturais vivas.
O Espetáculo
O espetáculo “Margarida, Pra Você Lembrar de Mim”, dirigido pela multiartista Luz Bárbara, narra a história de Margarida Maria Alves, sindicalista dos trabalhadores rurais assassinada no agreste paraibano, em Alagoa Grande (PB).
A passagem do projeto pelo Cariri contempla sete apresentações nos municípios de Crato e Juazeiro do Norte (CE), além de três apresentações no Sertão de Crateús.
A montagem é um testemunho de força, como dizia Margarida, com o propósito de fortalecer e revitalizar a memória da terra entre pessoas trabalhadoras, indígenas não reconhecidas e nordestinas migrantes. O espetáculo busca amenizar o silenciamento causado pela execução da líder sindical e reduzir a invisibilidade a que foi submetida.
A Comunidade Baixio do Muquém
O Baixio do Muquém é considerado um verdadeiro corredor cultural na zona rural do Crato. O território reúne maneiro-pau, artesanato, casa de farinha, coqueiras e fuxiqueiras, expressões que representam o rico patrimônio cultural da região.
O espetáculo “Margarida, Pra Você Lembrar de Mim” não se limita a apresentar uma narrativa: ele dialoga com o território e sua ancestralidade. Por isso, a peça será encenada também em comunidades rurais, indígenas e quilombolas, como Poço Dantas, Sítio Leite, Carrapato e no município de Tamboril, no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.
Essa circulação promove um intercâmbio cultural: a comunidade que recebe o espetáculo compartilha seus saberes, e a peça se transforma a partir dessas trocas, ressignificando sua própria narrativa.
Memória, Resistência e Território
O professor e morador do Baixio, Liro Nobre, relata que a comunidade preserva vestígios da presença indígena em sítios arqueológicos, roças e objetos encontrados localmente.
“Ainda que não exista um processo de identidade coletiva ou individual com relação à afirmação de identidade indígena, a presença aqui é marcante”, destaca Liro.
Ele também ressalta a presença do povo negro e de migrantes do século XIX que circularam pelo Nordeste.
“Essas comunidades dos baixios têm muitas histórias, uma vivência muito rica, que eu acho que converge para que esse espetáculo aconteça aqui”, afirma.
Segundo Liro, o Baixio do Muquém é resistência. Apesar do intenso processo de urbanização, impulsionado pelas obras do Cinturão das Águas, projeto hídrico que transporta água do Rio São Francisco por meio da transposição, a comunidade segue afirmando seu modo de vida.
O empreendimento cruza as comunidades de Baixio do Muquém, Baixio dos Oitis, Baixio das Palmeiras e Chapada do Baixio, impactando diretamente a dinâmica local.
Mesmo diante dessas transformações, os moradores se afirmam como camponeses, agricultores familiares e trabalhadores rurais, transmitindo suas tradições por gerações.
Liro recorda as histórias contadas por Dona Messê, antiga moradora da comunidade:
“Ela dizia que o olho d’água do Muquém era habitado por povos indígenas e que, quando os primeiros colonizadores chegaram, entraram em conflito com eles. A família de Dona Messê, a mãe e a avó, contavam essas histórias”, explica.
Serviço – Cronograma de apresentações:
10 de outubro (sexta) – Espaço Cultural Casa de Farinha Mestre José Gomes – Comunidade do Baixio do Muquém, Crato, 19h
11 de outubro (sábado) – Festival Vem Pra Beatos – Ong BEATOS – Crato, 21h30
13 de outubro (segunda) – Carrapato Cultural – Crato, 19h
14 de outubro (terça) – Escola Alaíde – Juazeiro do Norte, 19h
15 de outubro (quarta) – Aldeia de Poço Dantas – Crato, 18h30
16 de outubro (quinta) – PROCEM – Projeto Cultural Edite Mariano – Crato, 19h
17 de outubro (sexta) – Sítio Leite (CAC Horto) – Juazeiro do Norte, 19h
CRATEÚS
18 de outubro (sábado) – Escola Indígena Raízes de Crateús – Crateús, 19h
19 de outubro (domingo) – No auditório do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Tamboril – município próximo a Cratéus, 19h
Apoio institucional
Este projeto tem o apoio da bolsa artística “Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz”.
Referências e redes
- Site: www.pravocelembrardemim.com.br
- Instagram: @margaridapravoce
- YouTube: @margaridapravocelembrardemim
- Publicação: Margarida, Pra você Lembrar de Mim – N-1 Edições, 2023, na Caixa de Dramaturgias Indígenas.
Sobre a artista
Luz Bárbara é multiartista nas linguagens da performance, literatura, teatro e cinema. Pessoa trans não binária, indígena Kariri originária de Parahyba e migrante em São Paulo. É formada em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com pesquisas em antropologia do imaginário.
Ficha técnica
- Luz Bárbara – Concepção, Dramaturgia, Direção, Performance, Pesquisa e Produção Audiovisual e de Objetos cênicos
- Edmilson Alves – Direção de produção
- Michel Leocaldino – Iluminação e Edição Audiovisual e Projeções
- Edceu Barboza – Dramaturgismo
- Gleison Eugenio – Cenografia
- Mari Piah – Identidade visual
- Kalú Kariú – Designer Gráfico
- Dalila da Silva Feitosa – Assessoria de Imprensa
Contato
Assessoria de Imprensa: Dalila da Silva – (88) 9 8859-4572
Dalila da Silva
Jornalista graduada pela UFCA/CE, Produtora Audiovisual, Redatora e Revisora Textual.