Made in China: A realidade oculta do mercado de luxo internacional

Desde que Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos, aumentou as tarifas de importação, a China foi a mais prejudicada, sofrendo um aumento na taxa de 125% — porcentagem maior em comparação a outros países. Os impostos sobre os produtos importados da China geraram respostas tanto do governo asiático quanto dos fabricantes locais. Entre essas respostas, a que mais tem viralizado são os vídeos publicados no TikTok, nos quais os fabricantes afirmam que as bolsas de luxo consumidas no mundo, são na verdade, feitas na China.

Apesar de muitas peças de luxo não apresentarem a etiqueta “Made in China” costurada, elas são, sim, produzidas no país. Marcas renomadas como Prada, Gucci e Louis Vuitton têm concentrado parte significativa de sua produção na China — com até 80% (ou mais) de sua fabricação global realizada por lá, segundo o Portal Milano. Em um cenário de comércio globalizado, a China se destaca como epicentro de produção e fornecimento em larga escala, tornando o processo produtivo mais barato do que em outros polos industriais.

O que pode parecer um choque para alguns é que toda a cadeia de produção dos itens de luxo acontece na China. Isso significa que o que realmente é produzido pelas grandes marcas é, em muitos casos, apenas a marca — e não o produto. Diante disso, os fabricantes além de mostrarem como as peças são feitas, convidam os consumidores a comprarem diretamente com eles, alegando que os produtos seriam mais baratos e de qualidade equivalente às grifes de luxo.

Mesmo com essa exposição do mercado de luxo, o consumo dessas peças continua. Afinal, na balança entre qualidade e status de riqueza, o que costuma pesar mais é o status. Ainda que as marcas tenham registrado queda nos lucros durante esse período, a demanda não desapareceu.

Vale destacar que a China segue como a maior fabricante mundial, tanto no mercado de luxo quanto fora dele — e isso não significa necessariamente baixa qualidade. Como em qualquer lugar, tudo depende do valor investido em cada item.

Isso portanto não representa uma decadência do luxo, mas sim uma série de questionamentos sobre de onde de fato vêm os produtos que consumimos e, até mesmo, sobre quem faz esses produtos. Afinal, muitos itens de luxo também se dizem artesanais. Então, quem são esses artesãos?

Nesse sentido, os vídeos publicados sobre “De onde vem a sua bolsa de luxo” funcionam como uma ferramenta de desconstrução do imaginário que muitos consumidores ainda têm sobre a exclusividade e o artesanato europeu. Além disso, incentivam o consumo direto dos produtos pelos próprios fabricantes, em vez da mediação pelas grandes marcas, ampliando o acesso ao design de luxo para classes sociais distintas daquelas que tradicionalmente consomem esses artigos.

Autor

  • Jornalista e assessora de imprensa, sou discente da pós-graduação em Comunicação de Moda e autora do livro "Ziguezague com Linda: costura, memória, afetos".

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