Festival de Cinema de Gramado traz Mostra de filmes gerados por IA, e gera controvérsias

Foto: Reprodução Redes Sociais

Considerado o maior festival de cinema do país, anúncio da mostra gerou debate nas redes sociais

Ao ler a história sobre o Festival de Cinema de Gramado, uma parte em específico me chamou atenção “se adaptando a novas tendências do audiovisual e trazendo os novos olhares de um cinema brasileiro contemporâneo e em constante mudança”, diz o site oficial do festival. Esse trecho fala sobre uma das crenças e defesas de filosofia do evento. Recentemente, há exata uma semana, O 53° Festival de Cinema de Gramado foi bastante criticado ao publicar em seu perfil da plataforma Instagram sobre uma de suas mostras intitulada, “Mostra de Filmes Gerados com IA”, a primeira vez colocada na programação deste ano de 2025. O que nos leva a pensar sobre como a inteligência artificial está transformando a criação audiovisual.

O Festival em questão surgiu em 1973, e tem como tradição o prêmio “Kikito” nas mostras regulares do evento, chamado de “O Deus do bom humor” (a figura de um sol sorrindo), criado pela artesã Elisabeth Rosenfeld. O troféu Kikito teve sua primeira versão como uma estatueta esculpida em madeira. Para o Festival, a Mostra de Filmes Gerados com IA apresenta obras que exploram novas possibilidades narrativas e estéticas por meio de algoritmos, ferramentas generativas, aquelas que dão a possibilidade de se criar imagens, textos e vídeos a partir de uma descrição prévia e também as automações criativas. O ganhador dessa Mostra gerada por IA não recebe o Kikito, mas uma verba de R$20 mil em uma empresa de pós-produção.

Além de frisar a ideia de tendência tecnológica, a mostra propõe um debate sobre autoria, linguagem, ética e o futuro da produção audiovisual. Porém, ao ler os comentários da postagem do instagram, a “tribuna da internet” levanta várias questões pertinentes a categoria do audiovisual. Algumas delas como o fato de a ideia de precarização e desrespeito ao trabalho cinematográfico, ao se fazer cinema com prompts de comando em inteligência artifical; questionaram o porquê não fazer bom uso da IA para por exemplo, trazer acessibilidade comunicacional aos filmes, ao invés de fazê-los com prompts e algoritmos.

O Festival de Gramado defende a ideia de diferentes formas de colaboração entre humanos e máquinas na realização artística. E a coordenadora do Conexões Gramado Film Market, Gisele Hiltl, uma das empresas realizadoras do evento, fala sobre a utilidade que a inteligência artificial tem e como seu potencial deve ser trabalhado a nosso favor, porque de acordo com ela, ninguém vai parar de fazer cinema, independente de como ele seja produzido.

As obras do Festival de Cinema de Gramado estarão disponíveis para assistir online, no site do Festival, entre os dias 15 e 21/08, período em que também ocorre a votação popular. Além da exibição online, haverá uma sessão presencial no próximo dia 22 de agosto, às 14h, no Teatro Elisabeth Rosenfeld, em Gramado.

Os quatro filmes da mostra gerados com IA anunciados são:
-Frio, com direção de mr.press
-Inheritance Beneath the Wheel, com direção de Gabriel Panazio
-As Marcas nas Paredes, com direção de Marcio Toson
-Antes do Beijo: com direção de Leandro Corinto

Como tudo que é novo causa estranheza e divide opiniões, a inteligência artificial e seu impacto no mercado audiovisual também não poderiam ficar de fora. A tecnologia pode ser vista e já foi utilizada em pós produções de filmes, com o programa Respeecher, usado em duas obras premiadas no Oscar 2025, Emília Pérez, pela categoria de melhor canção original, e O Brutalista (2024), pela categoria de melhor ator.

Há quem ache que o uso da IA traga facilidades e também se sinta ameaçado em meio a possibilidade de ser trocado a força de trabalho humana dos realizadores audiovisuais por máquinas. O que também envolve questões éticas e de qualidade do produto final. A inteligência artificial pode estar presente em softwares de edição usados em filmes, como também para produzir roteiros ou até em sua distribuição.

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Dalila da Silva

Jornalista graduada pela UFCA/CE, Produtora Audiovisual, Redatora e Revisora Textual.

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