DFB mostra que o Nordeste também produz moda para o mundo

Caso eu convidasse você para ir em um grande evento de moda no Brasil, qual lugar do país você imaginaria que iríamos? 

Acredito que dificilmente você diria que iríamos para Fortaleza, a capital do Estado do Ceará. Sim, iríamos para lá. Na semana passada, de 14 a 17 de maio, a cidade recebeu a 26ª edição do Dragão Fashion Brasil, DFB, evento anual de moda que é considerado o terceiro maior do gênero no país. 

Durante os quatro dias de evento, o DFB foi destaque nas produções de moda apresentadas na passarela, mas não foi só isso, na programação também teve feira criativa, paineis de conteúdo e ações formativas para empreendedores ou até mesmo para amantes do mercado criativo. 

Como em outros eventos de moda, a criatividade se destacou nas passarelas apresentando o fazer artesanal de peças e acessórios, com técnicas manuais, costureiras, estilistas e entre tantas mãos e pessoas que existem nos processos da indústria da moda que tantas vezes são inviabilizadas pelo próprio mercado. 

A partir disso, o tema da edição deste ano foi “Inteligência Autoral”, fio condutor de uma programação plural, gratuita e conectada com os grandes debates da atualidade. O evento também reforçou o seu comprometimento com a valorização do design independente, do saber artesanal e das novas tecnologias aplicadas à moda, promovendo experiências que integram identidade, inovação e propósito. Apresentando também para o mundo novos talentos nordestinos do ramo da moda e da criação. 

O DFB é um festival no meu olhar muito diferente do SPFW, pois além de sair do eixo central São Paulo e Rio de Janeiro, sendo um evento de grande porte no Nordeste, um lugar visto na margem da sociedade no sentido de que aqui há somente fome e sertão, mostra que vamos e somos muito além desse imaginário, que também temos muita força no mercado da moda e que sim, somos criativos e fazemos moda, arte e cultura. Para resumir, o DFB apresenta uma parte do que também faz parte da moda brasileira autoral.

Engana-se quem pensa que a moda do DFB esteja apenas na passarela, fora dela também há produções de quem vai prestigiar o evento, muitas sendo dignas também de serem apresentadas e aplaudidas. Como por exemplo, Dominique Neves, que mais uma vez pelo meu olhar trouxe uma produção mais autêntica e até mesmo ousada para o festival. 

Dominique é uma mulher negra, nordestina, que no momento está grávida, e sim, mesmo estando grávida se veste muito bem, diferente do que muitos podem pensar. Apresento ela, como um exemplo de tantas outras pessoas que ousaram mesmo sem estarem na passarela. 

O DFB é dessa forma uma afirmação de identidade, resistência e potência criativa. Ao reunir estilistas, artesãos, empreendedores e espectadores em torno de uma moda autoral e plural, o festival mostra que o Nordeste não só consome moda, mas que ele a cria, reinventa e inspira. Criado em 1999, a cada Festival que se passa o evento cresce ainda mais. 

Neste ano, por motivo de trabalho, não era possível eu vivenciar esse evento, mesmo que a distância fosse uns 500 quilômetros, mais perto que o SPFW, ainda continuava longe.  Dado que, não poderia simplesmente deixar o meu universo aqui, sem mim. Mais uma vez, quem sabe no próximo, e espero de verdade que no próximo eu esteja lá junto com você. 

Autor

  • Jornalista e assessora de imprensa, sou discente da pós-graduação em Comunicação de Moda e autora do livro "Ziguezague com Linda: costura, memória, afetos".

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