De maio a julho, a região do Cariri Cearense está em festa. Nesse período de eventos culturais intensos, o guarda-roupa das pessoas ganha novas cores e formas. As roupas lisas vão dando lugar a peças estampadas, mais vibrantes, ou em tecidos que lembram o couro. As botas, especialmente as de cano alto — tendência atual — também dominam as ruas.
Agora, estamos na semana de um dos últimos grandes eventos da temporada. E com ele vem a pergunta inevitável: o que fazer com essas roupas agora que a festa está acabando? Guardar tudo no fundo do armário até o próximo ano?
A verdade é que muitas dessas peças não precisam se aposentar com o fim dos festejos. Será mesmo que o que usamos nesses momentos não pode seguir conosco em outros contextos?
As roupas que nos marcam, aquelas protagonistas que nos fazem sentir bem, não devem ser esquecidas, devem ser ressignificadas. Peças cheias de estilo, que oferecem conforto e versatilidade, merecem lugar no dia a dia. Estampas marcantes, texturas que remetem ao couro, botas ousadas… tudo pode continuar compondo looks fora da época festiva.
O problema da gente acreditar que não, é o medo de ousar, do olhar do outros. Mas e nós, como nos sentimos? Será que realmente usar diariamente roupas em tons claros ou não fugir do all black, é o que queremos ou é simplesmente, o que falam que é certo?
E, no seu olhar, quem usa peças que fogem desse estilo neutro, básico é uma pessoa vulgar, brega?
Hoje facilmente nos conteúdos digitais e nas vitrines de lojas, vão propor que o “certo” e “elegante” são roupas neutras, que devem ser usadas em todas as ocasiões, até em festas. Roupas que tem cortes e modelagem mais conservadoras que é muitas vezes confundida com elegância ou adequação. Mas será que não há também beleza e sofisticação naquilo que expressa quem somos com mais cor, textura ou presença?
E sim, há! Inclusive com a fuga da neutralidade há mais criatividade, autenticidade e beleza.
Incorporar elementos do visual junino, como uma bota com vestido fluido, uma estampa colorida em um look de trabalho, ou uma peça que remete ao couro em um passeio casual pode ser uma forma sutil (e poderosa) de manter viva a energia das festas, mesmo quando elas acabam.
Ressignificar não é montar de tudo em um look. É permitir que o estilo que nos acende nos eventos possa também iluminar nossos dias comuns. Afinal, se a roupa tem o poder de comunicar, por que não dizer ao mundo que a alegria, a cultura e a autenticidade fazem parte da nossa rotina e vida?
Klébia Souza
Jornalista e assessora de imprensa, sou discente da pós-graduação em Comunicação de Moda e autora do livro "Ziguezague com Linda: costura, memória, afetos".