Bom Fim, de Rafael Vilarouca, concorre ao troféu Mucuripe no 35º Cine Ceará

Ao tratar de histórias em memórias de arquivos, documentário sobre a festa do Senhor do Bom Fim de Icó segue tendência dos vencedores de 2023 e 2024

Bom Fim, filme do cineasta icoense Rafael Vilarouca, está na Mostra Olhar do Ceará de longa-metragens, que integra a programação do 35º Cine Ceará. A exibição acontece no dia 24 de setembro de 2025, às 14h, no Cine Dragão, em Fortaleza. A mostra projetou ao cenário nacional filmes de cineastas cearenses como Antônio Bandeira – O Poeta das Cores, de Joe Pimentel, que levou o troféu Mucuripe em 2024 e Represa, de Diego Hoefel, vencedor de 2023.

Para produzir Bom Fim, Rafael Vilarouca aliou o ineditismo de documentar a festa do Senhor do Bom Fim, que acontece todo ano junto à celebração do réveillon de Icó, município do Sertão Central do Ceará, à experiência afetiva de festejar a família e de rememorar os próprios ancestrais. “Esse filme é um arquivo sobre a festa que eu gostaria que permanecesse como uma visão pessoal, não querendo contar uma história literal, mas dando uma interpretação que também é afetiva, porque eu conheço essa festa desde o meu nascimento”, explica o diretor.

Bom Fim é um documentário com memórias afetivas e documentação realista. Memória histórica e ficção afetiva. Apresenta-se junto a uma narrativa que transita, com harmonia nem sempre tão sutil, entre o ficcional e o realista. Alertas sonoros, sirenes visuais, estampidos roucos, murmúrios de multidões, imagens reais, personagens fortes e complexos de tão reais são elementos que compõem a marca narrativa do cineasta. “Eu não queria que fosse apenas documental, eu queria que ele fosse primeiramente subjetivo e eu acho que aí essa marca que eu imprimo da minha experiência como artista visual”, comenta Rafael.

Essencialmente experimental, mas com método científico. O filme faz parte da pesquisa de doutorado que o cineasta realiza junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Eu queria que fosse um filme um pouco confuso, um pouco experimental mesmo, que não ficasse no lugar apenas do contar a história, mas de fazer a gente pensar sobre a história, entende?”, revela o artista.

O longa de Vilarouca: do Olhar do Ceará à projeção nacional


Filmes exibidos na Mostra Olhar do Ceará já conquistaram prêmios e circulação nacional. Um trunfo que projeta Bom Fim como favorito ao troféu Mucuripe é a valorização que a mostra vem dedicando aos filmes que expõem memórias, arquivos e identidades culturais regionais ou locais.

Em 2023, Adriana Botelho utiliza-se de memórias para contar histórias da foto-pintora Telma Saraiva, no longa-metragem Todas as Vidas de Telma.

Em 2024, a vida do pintor cearense Antônio Bandeira é documentada no filme Antônio Bandeira, O Poeta das Cores, de Joe Pimentel. Vence o Mucuripe.

Vilarouca faz de um evento a personagem central do filme: a festa do Senhor do Bom Fim. Transversalmente, outros personagens contam histórias, trocam afetos, narram fatos oficiais e ficcionais.

Não é só documentar a tradição, “é o momento de lembrar dos meus ancestrais”

Para Rafael, mais do que registrar a festa, o essencial é pensar o cinema como um arquivo vivo: “o que eu produzo também é arquivo”, afirma. Nessa perspectiva, o filme sobre a Festa do Senhor do Bom Fim nasceu como uma interpretação pessoal e afetiva, construída a partir de sua vivência como artista visual. “Não é uma narrativa literal, mas uma visão que carrega memória, sensibilidade e experiência”, explica.

Por isso, Vilarouca enfatiza que não queria banalizar o documentário transformando-o em um filme institucional ou muito romantizado da festa. Ao contrário, ele buscou um resultado experimental, subjetivo e aberto a interpretações, capaz de provocar reflexão sobre a própria história.

Jéssica: sincretismo de corpo e de fé

Uma das personagens de Bom Fim é Jéssica, devota do Senhor do Bom Fim e presente em todas as edições da festa. Ela invoca sincretismos: o religioso – já que Jéssica também crê na espiritualidade dos Orixás – e o do corpo, que ela precisou modificar para comportar sua alma de mulher.

A presença de Jéssica aponta para uma narrativa menos óbvia, que não se prende às idealizações sobre as famílias tradicionais ou ao passado barroco e neoclássico de Icó.

Com recursos limitados, Bom Fim foi concebido como um curta-metragem, mas o diretor o transformou em longa graças a amizades e esforços pessoais. “Minha maior intenção sempre foi transitar entre o documentário e o ficcional. Mesmo sem chegar tão longe quanto gostaria, foi essa busca que norteou a realização”, conclui Rafael.

Mini-biografia de Rafael Vilarouca

Nascido em Icó (CE), o artista visual e fotógrafo vive em Juazeiro do Norte (CE), atuando atualmente sobretudo com cinema. É graduado em Artes Visuais e Direito pela Universidade Regional do Cariri (URCA), mestre e doutorando em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Participou do Laboratório de Criação do Porto Iracema das Artes (2016), da residência “O Álbum é a Obra” (2021), promovida pelo Instituto da Fotografia do Ceará (IFoto), e da Residência Artística e Pesquisa (2023), idealizada pelo Sobrado Dr. José Lourenço (Fortaleza-CE). Foi premiado no 66º Salão de Abril (2015). Entre 2009 e 2014, integrou o Coletivo Café com Gelo, realizando diversas ações e exposições dentro e fora do Cariri. Realizou mostras individuais como Babel (Casa Fiat de Cultura), Quando o passado for presente lembra-se de mim no futuro (V QXAS – Festival de Fotografia do Sertão Central, SESC Juazeiro do Norte, MAC-CE, Vila da Música por meio do programa Temporada de Arte Cearense, SESC Palmas-TO), Desindústria (MAC-CE, SESC Crato, CCSP, CCBNB Cariri) e Corpo Santo (Sobrado José Lourenço, ONG Beatos, SESC Juazeiro), entre outras participações e exposições coletivas.

Ficha técnica de Bom Fim

Direção: Rafael Vilarouca

Produção: Glícia Gadelha

Montagem: Paula Soares

Fotografia: Nívia Uchôa

Som: Mike Dutra

Financiamento: XV Edital Ceará Cinema e Vídeo (SECULT-CE)

Duração: 84 minutos

Classificação: Livre

Serviço

O quê? Exibição do documentário Bom Fim no 35º Cine Ceará.

Quando? 24/09/2025, às 14h.

Onde? Cine Dragão do Mar, Fortaleza, CE.

Quem? Rafael Vilarouca, cineasta icoense.

Como? O filme está na Mostra Olhar do Ceará de longa-metragens do 35º Cine Ceará

Teaser de Bom Fim: https://www.youtube.com/watch?v=RgtwPRu9SnQ&t=12s

Portfólio de Rafael Vilarouca: https://rafaelvilarouca.tumblr.com/

Bom Fim no 35º Cine Ceará: https://cineceara.com/mostra-olhar-do-ceara-de-longas/bom-fim.html

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