“A vida sempre tem razão.”
Li essa frase em um livro esses dias e não consegui parar de pensar nela. Isso desencadeou uma série de pensamentos, e me lembrei de algo que uma pessoa muito especial me disse certa vez: que achava interessante o fato de, mesmo sendo alguém que pensa demais, eu consigo dar conexão aos meus pensamentos.
De fato, a racionalidade de uma Lua em Aquário nunca me permitiu que minhas emoções fossem protagonistas. Não é do meu feitio atravessar uma situação sem analisar todos os ângulos. É cansativo, mas é uma característica tão particular que não consigo sentir raiva dela — apesar de constantemente me deixar exausta.
Ao ler esse trecho no livro Cartas a um Jovem Poeta, percebi que minha racionalidade vive em constante conflito com a racionalidade da vida — com o que a vida considera certo a ser feito, independente do nosso desejo. Ao dizer que a vida tem razão, sabemos que ela não vai falar na nossa cara o que deve ou não ser feito — ela simplesmente age. E isso me causa uma angústia racional, porque preciso de uma voz alta e clara que confirme que o que estou fazendo é correto. Mas quem sou eu para ditar a forma como a vida deve se comunicar comigo?
Mas, de fato, a vida sempre tem razão.
Primeiros Contatos com a Astrologia
Lembro da primeira vez que tive contato com a astrologia: meu irmão me disse que eu era taurina. E, como acontece com muitos que se aproximam da astrologia pela primeira vez, fiz disso minha identidade: taurina.
Depois descobri que sou taurina com ascendente em Touro — e me senti especial, taurina em dobro. Com isso, abracei todo o estereótipo do signo e pensei que era só aquilo: preguiçosa e gulosa.
Com o tempo, entendi onde essas características realmente se encaixam na minha vida. A comida era só uma válvula de escape para a dificuldade que eu tinha em assumir minha verdadeira gula: a gula pela vida. Minha vontade de saborear cada minuto, de encontrar pessoas de todos os tipos, de frequentar diversos lugares, de sentir prazer em suas muitas formas.
Graças à astrologia, aprendi a ver as diversas dinâmicas que uma palavra pode ter na singularidade de cada ser humano. E a influência de Touro na minha vida me ensina que não devo sentir culpa por ser uma mulher que tem sede de prazeres — desde os mais básicos até aqueles que me fazem transcender espiritualmente.
Na verdade, se eu não tivesse cuidado, poderia ser engolida por essa vontade incessante de viver a vida em todos os aspectos possíveis. É aqui que minha Lua em Aquário entra em ação e me impede de me perder nessas vontades.
Entendendo as Emoções pelo Mapa Astral
Quando iniciei meus estudos de astrologia, fui notando as nuances desses trânsitos na minha vida. Ao entender a forma como minhas emoções são elaboradas, comecei a compreender coisas que antes não faziam sentido.
Fui uma criança muito calada, tímida, com um medo tremendo de me expressar. Isso gerou em mim problemas psicológicos profundos, porque sempre me vi precisando da validação das pessoas para ser alguém que elas aprovassem. Parecia que, se eu fosse eu mesma, não sobraria ninguém.
O que é irônico, porque depois de anos de processos terapêuticos, descobri não só que estava tudo bem ser quem eu sou, mas também que as melhores pessoas ficam na sua vida quando você se permite essa liberdade.
De criança tímida, tornei-me jornalista. Essa foi a maior reviravolta da minha vida até então. E ao estudar a fundo meu mapa astral, dei de cara com uma das maiores ironias cósmicas: tenho quatro planetas em Gêmeos na Casa 1.
A Comunicação como Missão
Gêmeos é o signo da comunicação — aquele do zodíaco que mais fala, que pensa incessantemente, que veio ao mundo para expressar seus sentimentos de alguma forma. Não é coincidência que muitas pessoas com esse signo forte acabem se tornando professores, jornalistas, publicitários, escritores, apresentadores, políticos… todas profissões que se apoiam no ato de comunicar aquilo em que se acredita.
E cá estou eu, seguindo o estereótipo — e amando ser jornalista e escritora.
Como não acreditar que a vida tem razão, se tudo parece ter sido desenhado pelo cosmos com tanta precisão? A maior parte dos meus desafios está ligada à forma como me enxergo e como me enxergam. Não é fácil deixar para trás tudo o que minha criança interior aprendeu: que era inconveniente, que não era amada, que não valia a pena ser ela mesma.
Desde então, percebi que minha vida inteira gira em torno dessa construção de identidade. E é justamente isso que a Casa 1 representa no mapa: a forma como nos colocamos no mundo.
Lições de Vênus e Saturno
Entre os planetas que habitam minha Casa 1, estão Vênus e Saturno. Em outros textos já falei sobre como esses planetas influenciam nossas vidas. Vênus rege os afetos — por nós mesmos e pelos outros. Saturno é o planeta do tempo, da cobrança, dos aprendizados que exigem maturidade. Ter esses dois posicionamentos no meu mapa me mostra que minha “conta” aqui é aprender a atender minhas necessidades sem culpa e comunicar o que sinto sem medo do julgamento.
Minha Vênus em Gêmeos me ensina, todos os dias, que se eu não falar o que sinto, sou engolida pelas emoções. Nos últimos anos, fui descobrindo uma facilidade em expressar o que se passa aqui dentro — demonstrar afeto nas palavras, dar ênfase aos sentimentos. E quando não quero falar, eu escrevo. Mas de alguma forma, eu comunico.
Já Saturno em Gêmeos traz a sombra dessa comunicação. Uma dualidade que me tortura diariamente. Se por um lado consigo expressar amor com facilidade, por outro lado, travo ao tentar falar sobre o que me incomoda. Volto a um estado infantil, com medo de perder algo se me posicionar.
Mas a perda é inevitável. Porque se não falo, perco a mim mesma. E isso dói.
Dói perceber quantas vezes deixei de comunicar algo com medo de perder alguém — e nesse processo fui me afastando da minha própria essência. Essa sim, é a perda mais perigosa.
Quando me permito sentir apenas a leveza da Vênus e ignoro as lições de Saturno, deixo de viver minha Vênus plenamente. Afinal, ela fala também da minha relação comigo mesma.
Para entender mais sobre esses dois planetas, acesse:
Conclusão: A Muiteza de Ser
E assim sigo, todos os dias, tentando equilibrar luz e sombra — prazer e responsabilidade, expressão e silêncio. Como disse o Chapeleiro Maluco para Alice:
“Você não é mais a mesma. Você perdeu sua muiteza. Você costumava ser muito mais muitaz.”
Minha missão é não perder essa muiteza.
A astrologia me ajuda a lembrar que ela sempre esteve aqui — mesmo quando eu ainda não sabia como nomeá-la.