Atualmente, estamos passando por um dos momentos mais tensos na Astrologia. Todo o mês de março foi marcado por trânsitos intensos, que nos fizeram recalcular a rota em vários sentidos. Em especial, destaca-se a Vênus retrógrada — um trânsito que se iniciou no dia 1º de março e se estenderá até o dia 12 de abril.
Para a Astrologia, quando um planeta está retrógrado, isso não significa que ele literalmente inverte seu movimento de rotação. A explicação vem, na verdade, de uma perspectiva mais astronômica — afinal, na antiguidade, esses dois saberes caminhavam juntos.
O sentido de retrogradação parte da percepção de que o percurso orbital de um astro está, de certa forma, diferente do usual. Dito isso, a retrogradação é muito mais uma ilusão de ótica do que um processo literal. Ainda assim, a escolha dessa narrativa serve para contextualizar os processos emocionais que um trânsito astrológico pode desencadear em nossas vidas.
Vênus, assim como Marte e Mercúrio, é um planeta pessoal. Isso significa que possui um ciclo astrológico mais dinâmico e, geralmente, influencia diretamente nossas experiências individuais. Seus períodos de retrogradação podem gerar ruídos na comunicação cotidiana e afetar a forma como nos relacionamos ou agimos.
Vênus é o planeta do amor — mas não apenas do amor romântico. Ele representa tudo que diz respeito à forma como nos enxergamos e como somos enxergados pelos outros. É possível que, neste período, você tenha encerrado ciclos, iniciado outros, sentido-se perdida, ou percebido que aquilo que parecia certo, na verdade, não tinha base firme — e desmoronou. Pessoas do passado podem ter retornado; relacionamentos com pendências, sejam eles de amizade ou paixão, vieram à tona. A forma como você organiza sua vida financeira também pode ter se tornado um tema de revisão.
Talvez este texto tenha um peso emocional e particular. Parte do que me faz amar escrever é justamente me colocar nas palavras, e, assim, quem sabe, tentar me entender.
Tenho a impressão de que, desde o dia 1º de março de 2025, consegui ver a Astrologia em todos os cantos. Pareceu mais uma maldição do que uma bênção, devo admitir. Mas hoje, especificamente, estou com discernimento suficiente para saber — e, principalmente, acreditar — que tudo isso aconteceu por um motivo maior.
Acho interessante ler sobre o amor porque é um tema que não possui base científica. Ninguém tem uma fórmula exata para ele. E eu, com minha lua em Aquário — que tanto racionaliza —, acho isso assustador. Nascemos e morremos sem saber amar, porque amar não é uma teoria construída, não é exato. Apenas sabemos e acreditamos numa coisa: o amor deve ser bom. Do contrário, não é amor. Afinal, nunca explicaremos uma situação sem nos colocarmos como centro dela, sem que, de alguma forma, aquilo seja voltado para o nosso bem.
Mas quem ensina? Quem diz como se ama? Quem tem credibilidade suficiente para definir o que é ou não é amor? Como explicar o indizível? Quem nos ensina por que, às vezes, alguém nos faz mal, e ainda assim continuamos amando? Para além das teorias psicanalíticas e psicológicas — sem o amparo da ciência —, o que é o amor?
Dentre as tantas coisas que me atravessaram neste período de retrogradação venusiana, sinto que reanalisar a forma como me sinto amada — e como me vejo — foi o mais profundo. Porque não se trata apenas do olhar do outro, mas de como me coloco no mundo — no mundo dos outros — e acabo esquecendo do meu próprio.
Então, me levo a esses questionamentos, porque é muito difícil sentir sem querer encontrar uma resposta ou preencher uma lacuna. Mas não é justamente isso que sempre acontece? Não é essa a tortura da vida? Não saber.
Quando Vênus iniciou sua retrogradação, tudo o que eu achava ser sólido se mostrou extremamente frágil. E quem me dera jogar essa responsabilidade sobre outra pessoa — mas era comigo mesma. Minha relação comigo se revelou frágil. Ignorei por muito tempo os meus sentimentos, tentando compreender os do outro. Neste período, os astros me mostraram que recebemos apenas aquilo que merecemos — mas não se trata apenas de um merecimento existencialista, e sim de um merecimento cotidiano, baseado nas escolhas que fazemos todos os dias. Entre essas escolhas, está a de nos escolhermos. E quando finalmente me escolhi, foi porque não me restava outra opção — e por isso doeu tanto. Porque era o único caminho. E, no fundo, acreditar. Comecei março sendo uma pessoa, e cheguei em abril completamente outra. Só me restava acreditar.
Acreditar que era para mim. Que eu precisava me dar tempo para me reconhecer. Então, me restou crer que sem o caos não há mudança, e que existe um propósito maior. Eu preciso acreditar — porque, do contrário, seria engolida por uma racionalidade insuportável.
E acreditar é uma arte. E nada é mais firme para nos sustentar em um mundo tão complicado quanto a arte. Ai de mim se não escrevesse. Ai de mim se não colocasse para fora tudo o que sinto. Ficaria inflamada por dentro. Ai de mim, que sou romântica e vejo amor em tudo — mas que, por destino, racionalizo esse amor. E isso, sim, dói muito mais.
Quando escolhemos trilhar o caminho que é de nosso merecimento, muitas coisas precisam ser sacrificadas — entre elas, toda a expectativa que colocamos no outro, esquecendo da responsabilidade que devemos ter conosco. Principalmente quando continuamos em escolhas que já sabíamos, desde o início, como eram. “Qual a sua responsabilidade na desordem da qual se queixa?” Quando li essa frase de Freud pela primeira vez, congelei. Pensei em quantas vezes negligenciei minha própria responsabilidade, esperando que ela viesse de uma situação ou de alguém. Minha responsabilidade é perceber. Perceber o que meu corpo está dizendo. Perceber o que está deixando minha mente tão aflita. Perceber que, muitas vezes, o corpo grita por socorro.
Vênus entrou nesse trânsito, e desde então meu corpo não suportou mais tudo aquilo que eu ignorava — e ainda bem que isso aconteceu. Não se trata de romantizar a dor, mas de entender de onde ela vem, o que a desencadeia e como reagimos a ela.
A próxima vez que Vênus retrogradar será por volta de outubro de 2026. Espero que, até lá, tenhamos compreendido que nem todos os lugares são para nós — e que nós também não somos para qualquer lugar. Que saibamos nos posicionar diante de nossos desejos sem que eles pareçam impossíveis de realizar. Mas, principalmente, que possamos oferecer a nós mesmos um bom lugar para habitar dentro das nossas próprias vidas.